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Até Que a Morte Não Separe

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  Parte 01: Primeiro Encontro   — Quem é você?! Como entrou na minha casa? — Calma, mocinha… — Não me chame de mocinha!  — Perdoe minha invasão. Eu posso explicar! Mas antes, preciso fazer uma pergunta; dependendo da sua resposta, minha explicação será compreendida rapidamente. Por acaso… você sabe que está morta? — Claro! Como eu poderia não saber? — Ufa! Que ótima notícia! Tentei conversar com outros espíritos que ainda não aceitaram que estão mortos; você não faz ideia de como é difícil dialogar com eles; são tão histéricos! — Pobres coitados. Você fala como se não tivesse surtado também quando descobriu que estava morto. — Claro que surtei, mas, quando eu realmente entendi que eu estava morto, não tive outra opção a não ser aceitar a situação. Gritar não me faria levantar do caixão e ter minha vida de volta.  — Ok! Chega de papo furado e me diz como você entrou na minha casa! — Ex-casa… — Tanto faz! Se você conseguiu entrar, significa que eu posso sair, mas até hoje, e já faz dois

Desfile Fúnebre - (13 Contos Fúnebres)

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     A terra das covas movimentam-se, abrindo passagem para que os pútridos defuntos retornem à superfície depois de anos de sono lúgubre. A população de Franco da Rocha, cidade interiorana, marcada por inúmeros mistérios, foi avisada sobre uma maldição carnavalesca: jamais festejar o carnaval durante a noite de quarta-feira de cinzas. O problema é que, de geração em geração, a tal lenda foi ficando esquecida, e cá estamos, nesse relato onde a mais fúnebre das festas aconteceu. No centro da cidade, três escolas de samba se preparam para começar o desfile, enquanto que, no cemitério não muito longe dali, defuntos macabros se aprontam para a nefasta folia.    Ninguém poderia imaginar que uma linda noite fresca, de céu tão limpo e repleto de estrelas, reservava um acontecimento amedrontador que faria o mundo virar pelo avesso, trazendo o inferno e seus demônios às ruas para participarem do primeiro dia de Quaresma. Folia na cidade; show de horrores no cemitério. Entre as lápides, todo tip

O Defunto Que Desceu Pela Chaminé - (13 Contos Fúnebres)

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      Querido Papai Noel. Preciso da sua ajuda. Quero o meu pai de volta. Sei que não fui uma criança exemplar nos últimos meses, e meu pai sempre me avisou do espírito maligno chamado Krampus que pega as crianças más na noite de Natal. Depois que a minha mãe morreu eu ouvi várias vezes que eu estava ficando rebelde; não sei bem o significado disso, mas sei que coisa boa não é. Você sabe, Papai Noel, que sempre fui um bom garoto; sabe dos elogios que sempre recebi dos meus professores, que sou um ótimo aluno, que escrevo muito bem e sou muito criativo; espero que você já tenha lido uma das minhas histórias que enviei nas cartas anteriores. Um dia serei escritor, e vou escrever muitos livros para você dar de presente para todas as crianças que se comportaram bem durante o ano. Acho que você poderia realizar esse meu pedido de trazer meu pai de volta, afinal, o Krampus deveria ter me levado; eu que me comportei mal, e não o meu pai, ele não tem culpa de nada.     Quando eu questionei com

Babá Eletrônica - (Selecionado pela BILBBO no concurso de Halloween 2021)

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  “Eu te batizo em nome de Satanás!” - Ao ouvir essa frase vindo da babá eletrônica, narrada por uma voz tenebrosa, Lúcia corre para o quarto do bebê no meio da noite, encontrando o pequenino chorando na penumbra. A fina tela que cobria o berço movia-se formando uma silhueta, contornando algo maligno junto da criança. Um forte cheiro de vela tomava conta daquele lugar, deixando o quarto com uma atmosfera idêntica a de um velório. Os ruídos vêm assombrando Lúcia há três dias, e então, ela lembrou do número de telefone concedido por sua amiga supersticiosa, indicando que sua vizinha, de dons sobrenaturais, estaria disposta a ajudá-la. A vizinha atende o telefone e se assusta aos berros de Lúcia: “Venha, depressa! Um ser maligno está no quarto do bebê!” A vizinha parte para casa de Lúcia acompanhada de uma sensação terrível e maléfica. Lúcia abre a porta, agarra um dos braços da velha e a conduz até o quarto. "Onde está o pai da criança?” - Constrangida, Lúcia responde que teve um ca

Travessuras ou Travessuras - (13 Contos Fúnebres)

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     É noite de Halloween no cemitério. Abóboras decoram os túmulos e velas roxas derretem nos jazigos. Os defuntos saem de suas sepulturas, e as fúnebres criancinhas, com suas sacolinhas, pedem doces de cova em cova: Gostosuras ou Travessuras? Toda noite de 31 de outubro, à meia-noite, após o coveiro Tavares deixar o cemitério para curtir o famoso “Baile Horripilante dos Idosos”, a festa nefasta se inicia entre os túmulos. A frase “Descanse em Paz”, perpetuada nas lápides, deveria ser substituída para “Descanse em Paz… até a noite de Halloween”, pois nesta data, os falecidos voltam à superfície para uma noite de curtição, dança com esqueletos, bebedeira, histórias assustadoras de como morreram e sinistras orgias. As criancinhas pútridas e inocentes usam máscaras durante essa noite, mesmo sabendo que seus próprios rostos já são assustadores - coitadinhas. Elas vagueiam pelo cemitério, pulando e cantando “Silver Shamrock”, parando em frente as covas e abrindo suas sacolinhas para que os

O Berro da Roseira - (13 Contos Fúnebres)

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     Eu desejo, fortemente, que tudo o que eu presenciei minutos atrás, seja uma ilusão causada pelo excesso de bebida. Afinal, como tudo aquilo poderia ser real? E cá estou eu, mais uma vez, conversando comigo mesmo. A atmosfera deste cemitério sempre me incomodou, mesmo durante o dia. Eu sempre fui cético; não acredito… não acreditava nessas baboseiras, mas, agora eu tenho minhas dúvidas. De uma coisa eu sei: eu nunca, jamais, andarei à noite pelo cemitério novamente.  Aquilo era mesmo um bode preto. Oh, com certeza, era! Ele surgiu do nada! Estava em cima do túmulo bem ao meu lado, quase encostando em meu braço; aquela coisa soltava faíscas da boca enquanto movia sua cabeça para cima e para baixo, bem próximo a mim! E aquelas covas? Eu podia ver a terra se movendo como as ondas do mar; um mar de terra de cemitério; aqueles movimentos davam a impressão de que alguma coisa iria sair de dentro das covas, E os corvos! Sinistros! Pareciam estar zangados comigo; desgraçados! Me deram o ma

O Caixão na Estrada - (13 Contos Fúnebres)

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   “Aquilo é um caixão?!” - Exclamou Dario, interrompendo a fala de Marisa enquanto eles caminhavam pela estrada escura e abandonada. Já passava da meia-noite e, o jovem casal que vinha conversando sobre diversos assuntos ficaram em absoluto silêncio, paralisados enquanto observavam o caixão à beira da estrada. O cenário era realmente assustador; a estrada velha que cortava o matagal se estendia numa penumbra aterradora; a noite era fria e silenciosa, e graças ao forte vento podia-se ouvir os galhos e as folhas em movimento. O caixão que se encontrava à beira da estrada - lacrado - aterrorizou de vez a noite daquele casal… digo… a última noite daquele jovem casal. Marisa acelerou o passo, e Dario, tremendo de medo, parou para averiguar aquele macabro caixão. - Vamos, Dario! O que você está fazendo aí? - Espera! Quero ver se tem alguém dentro do caixão. - De certo, há alguém aí dentro. Vamos embora!  - Só mais um minuto. Olha só como ele está sujo de terra; tem vermes por toda parte, e